Afinal, onde fica este tal de Meio Ambiente?

Por Leny Spessotto de Camargo Santiago

Dia desses, uma professora me contava que recebeu a mãe de um aluno muito brava, pois agora era só ela deixar uma torneira aberta enquanto lavava a louça, ou escovava os dentes, que o filho já vinha avisar que precisava fechar, pois aquilo era muito desperdício e um dia iria faltar água no planeta! Queria que a professora parasse de “encher a cabeça do menino” pois, para ela, Meio Ambiente só atrapalhava!

De que esta mãe fala? Onde fica este tal de Meio Ambiente?

É um bom momento para refletirmos!

Normalmente, ao falarmos em Meio Ambiente pensamos na natureza, nas árvores, no campo... Pensamos sempre em algo que está fora, distante de nós.

Pensamos assim, pois, é a nossa forma ocidental de pensar. Nos últimos trezentos anos, o pensamento do Ocidente se desenvolveu de forma a enxergar as coisas separadas, fragmentadas, cindidas. Meio Ambiente é uma coisa, e ser humano é outra. E, esse Meio Ambiente aí de fora, não tem nada a ver com os seres humanos.

Nossa visão de mundo é compartimentalizada, com cada coisa no seu lugar, na sua hora, na sua vez, segundo uma lógica estabelecida.

Aprendemos a valorizar a lógica, em detrimento da emoção. A estatística, em detrimento aos sentimentos. O indivíduo, ao invés da relação. A objetividade, em detrimento à subjetividade. O valor econômico, em detrimento ao valor humano.

Não nos damos conta, mas, funcionamos assim. Buscamos razões lógicas para os emoções e, motivos objetivos para nossos sentimentos. Queremos argumentos claros e precisos para entender a subjetividade. E, medimos o desenvolvimento de uma pessoa, comunidade ou Nação pelo econômico, e não pelo conjunto de princípios e valores que cultivam, nem pela maneira que encontraram de viver em sociedade.

Com esta forma de pensar, o Meio Ambiente só pode ser uma coisa à parte, cindida, fora de nós.

Como economizar água, luz, ou não aceitar o descartável se isso é mais prático, rápido e confortável?

Como separar o lixo orgânico do não orgânico se, a partir do momento que nós o colocamos para fora de casa, não é mais nosso e  não temos mais nada a ver com isso?

Retornemos à história da criança. Quando ela pede à mãe que feche a torneira para não faltar água no planeta, ela está usando outro raciocínio. Ela fala de uma atitude que traz conseqüências, de um mundo que não é cindido nem separado, mas, ao contrário é interconectado e interdependente.

Ora, não é a água que vai acabar e sim a água potável, isto é, limpa. Dia após dia retiramos de fontes, rios e bacias hidrográficas água limpinha. Usamos, muitas vezes com desperdício, e devolvemos aos rios a água suja, sem tratamento devido.  E depois gastamos muito para tratar esta mesma água, para que seja consumida novamente.

Assim como o menino, não devemos separar as partes, e sim pensar no ciclo como um todo: produção, uso e descarte. Isso é pensar integrado.

Comparado aos ecossistemas, vivemos um complexo padrão de organização de interdependência, onde cada ação provém, interfere e gera uma reação que afeta todas as outras pessoas nas dimensões culturais, éticas, políticas, sociais, ambientais e econômicas. Logo, o Meio Ambiente não está fora. Está aqui, em volta e em cada ação, ou não ação, que cada um de nós faz.

Ao enxergarmos o mundo como um todo, integrado, interconectado e interdependente a falsa dualidade Homem - Meio Ambiente desaparece.

O Homem é um dos seres vivos do planeta, e as relações que cada um dos humanos estabelece com os demais seres humanos, com o meio social e com o mundo são determinantes para TODA a humanidade.

Leny Spessotto de Camargo Santiago

26 de maio de 2009, São Paulo, Brasil.

 

Leny Spessotto de Camargo Santiago, psicóloga com Especialização em Psicologia Clínica (CRP 0630405/0), Gestão de Sistemas e Serviços de Saúde, Educação Comunitária e Gestão Ambiental para reassentamentos precários. Desenvolve projetos de Cidadania Ambiental trabalhando temas da psicologia, da saúde e do meio ambiente.  Realiza consultoria na área de psicologia e valores humanos, educação comunitária e ambiental e Cultura de Paz.

Leny foi membro atuante no Grupo Kryon Brasil, atendendo como psicóloga e ministrando cursos, vivências e outros. Era co-responsável com Márcia Borges pelo Serviço “Feira de Trocas” na Casa de Kryon,  que teve sua inauguração em dezembro de 2008 e acontecia bimestral no último sábado do mês. Assim como pelos encontros mensais sobre Valores e Sustentabilidade Planetária inaugurado em maio de 2009. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.