Era uma vez Maria, que de pequena adorava cantar, a música a encantava.

Cantarolava sempre, todas as canções que conhecia e as que inventava. Um dia, uma voz adulta lhe disse que sua voz não era tão bela quanto a da cantora da TV, ela acreditou e decidiu não mais cantar.

Mas Maria ouvia música em tudo, no vento das tardes de inverno, no intenso calor do verão. Ouvia música quando era noite e buscava o céu. Ouvia a música dos corações…

Um dia, uma voz adulta lhe disse que isso era mentira, ela acreditou e se dispôs a esquecer.

Maria conversava com as estrelas, com a luz, com as nuvens, com o sol. Também conversava com as plantas, flores, anjos e animais. Quando uma voz adulta lhe disse que isso era impossível, ela acreditou e se dispôs a silenciar.

Brincava de ser mãe, professora, atriz, bailarina, circense, confeiteira, médica.

Ria muito… Achava graça dos afazeres humanos.

Brincava de girar até cair, de pular corda, de pega-pega…

Certo dia, uma voz adulta lhe disse que brincar assim não era legal, que bom mesmo era o videogame, que vinha na caixa embrulhada para presente. Maria acreditou e dali em diante os jogos de videogame passaram a ser sua brincadeira predileta.

Assim, Maria foi se despindo de si mesma, todos os dias um pouquinho, afinal isso era amadurecer, diziam.

Crescida, jovem e bela, lia as revistas de moda e dos assuntos modernos, que enfatizavam: “use esse creme para ficar bonita”, “compre esse batom para aumentar a boca”, “vista-se assim para ser sexy”, “emagreça”, “aja desta forma para ser amada”. Ficou encantada, as revistas ensinavam tudo o que ela precisava, da mesma forma que os adultos.

Então, decidiu se desvestir, definitivamente, de quem era, e adequou-se ao que as revistas diziam que era a moda.

Com o passar do tempo Maria aprendeu ofícios para ganhar seu próprio dinheiro, estratégias para subir na carreira e maneiras para “fisgar” o homem escolhido.

As revistas diziam que toda mulher precisava ser ótima mãe, profissional, amiga, jovem, bela, malhada, sexy e “mulherzinha” para seu marido o tempo todo.

Maria não só acreditou como se esforçou.

Stress, tensão, angustia e ansiedade, rondavam a sua vida.

Maria não tinha mais sonhos, tinha deveres. Precisava manter o que tinha conquistado.

Não vivia, sobrevivia.

Sorria pouco, entristecia.

Sites da internet falavam sobre a felicidade em cápsulas, ficou encantada, foi ao médico e pediu ajuda para sua falta de felicidade.

Maria não sentia a vida pulsar dentro de si.

O remédio diminuiu seu sofrimento, mas Maria continuava não sentindo a vida pulsar, não via graça em nada, no entanto todos diziam que isso era viver, e ela se conformava.

Maria não sabia por que não estava feliz. Afinal tinha tudo o que as revistas, os sites e as pessoas diziam ser necessário para ter felicidade.

Ah Maria, Maria… Ao despir-se de si mesma foi-se junto sua alma, sua alegria e seu prazer de viver.

Vidas Marias caminham pelas ruas de nossos bairros todos os dias e fazem parte das estatísticas médicas que nos contam do aumento da incidência da depressão, da ansiedade e do stress da mulher no mundo ocidental.

E você já se sentiu assim? Enxergou a si mesma nessa história?

Mas então, quem sabe já não é chegado o tempo de resgatar seus gostos pessoais, as crenças que abasteciam de alegria sua vida, a sua real beleza única e pessoal? Tempo de resgatar seus sonhos, sua voz, sua alma? Tempo de sentir de novo a vida pulsar?

Tomara sua resposta tenha sido um grande e sonoro sim!!!

Thais Accioly - thaisqaccioly.blogspot.com