É tamanha a beleza do fruto que mesmo quando não alimenta ninguém, ainda assim, caindo sobre a terra, apodrecendo torna-se adubo e suas sementes convertem-se em novas árvores:  “Para quem sabe estudar serenamente a cada fracasso, não existe esforço vão e tampouco amor infrutífero.”

Todos sabem repetir muito bem aquela frase:  “A natureza não dá saltos”, mas quem realmente a compreendeu?

A pressa é o interesse pelos frutos, ao invés do amor pela obra. A pressa é o desejo de adquirir logo, ou a má vontade que aspira livrar-se rapidamente de algo que não quer compreender.

Na aspereza de querer os frutos antes da hora, acabamos interferindo no crescimento harmonioso e maltratando o desenvolvimento. Na ânsia do desejo acabamos indo contra o próprio fluir da vida, desejando o que ainda não pode ter, e o resultado só pode ser o sofrimento.

Sofremos quando nos consideramos invencíveis e não queremos estudar as lições do fracasso, como se considerássemos somente dignos de vitórias e mais vitórias.

Não existe vitória ou derrota para quem está caminhando, existem somente lições e mais lições, que vão se somando, como fertilizante para a árvore da sabedoria, que cresce e desenvolve de acordo com o ritmo da vida e na hora certa as flores e os frutos começarão a desabrochar, naturalmente, sem pressa, como um doce canto de uma árvore silvestre.

A pressa e a impaciência nos fazem achar que o excesso de informações é melhor do que verdadeiros fragmentos de consciência, que embora pequenos em quantidade, grandes em realidade. Eis a confusão.

Na semeadura, na plantação, no cuidado, no amor e no carinho pelo crescimento é que está o segredo de frutos verdadeiramente fortes, belos e nutritivos, porém, o fruto em si mesmo não é o fim e sim um novo começo.

Os frutos podem alimentar, mas em sua maioria, servem unicamente como novas sementes que ao despencarem da árvore geram novas árvores e se as sementes eram fortes e boas, então as árvores vindouras tendem a seguir a mesma linhagem e desta forma devemos compreender a essência de nossos trabalhos. Compreender que nossos trabalhos embora estejam no presente, ainda assim serão a nossa contribuição para o futuro, mas a pressa, terrível inimiga da perfeição, está sempre pronta para arruinar a plantação, a ficar cutucando as sementes na terra, impedindo que se transformem em brotos, os brotos em árvores e assim por diante.

A pressa exige que os brotos dêem frutos e de maneira artificial e com métodos falhos sempre dá um jeitinho para que isso aconteça, mas a cegueira da impaciência não quer enxergar que esses frutos prematuros somente contribuirão para que uma nova linhagem de árvores fracas e degeneradas surjam sobre a superfície da terra. Meus irmão,  amai as sementes, amai os brotos, trabalhai carinhosamente, cuidai do crescimento, mas deixai para que os frutos falem por si mesmos, deixai-os para o futuro e quando menos esperardes já estareis comendo e se alimentando dos frutos das árvores que surgiram das sementes de seu próprios frutos. E satisfeitos e plenos no oceano da liberdade podereis abraçar a fraternidade e livremente voar nas asas do amor puro universal e como uma estrela, ser uma lamparina a mais a iluminar as trevas do pensamento humano.

Mas pobre daquele que se sente digno do fracasso. Pobre daquele que não quer estudar detidamente as lições da derrota. Pobre daquele cujo veneno da impaciência corrói a si próprio e cujo nefasto desejo de saborear os frutos como oculto inimigo, carcome secretamente as raízes da árvore da vida.

Amor, amor, amor, tão perto, tão longe, tão simples que se torna complicado.

Quando, movidos pelo amor e trabalhando com alegria, chegaremos a compreender todas estas coisas, então o carinho pelas sementes e pelo crescimento dos brotos chegará a tal intensidade que até nos esqueceremos que daquelas árvores um dia poderão surgir frutos. Este é um dos grandes mistérios da vida.

Paciência, paciência, paciência, que exótico perfume exala esta flor.

Fonte: Livro A Arte de Ver e Ouvir - Para dentro e para cima, a Senda continua. Autor: Um Amigo.